:01: Fisioterapia e o esporte

 
por Ft. Juliana Prestes Mancuso, fisioterapeuta convidada

Historicamente, a fisioterapia e a enfermagem, durante muito tempo, foram dois exemplos de semiprofissões ou atividades paramédicas que nasceram de um processo de especialização vertical ou indireta, que mais tarde desenvolveram o seu próprio campo de competência. O processo de especialização teve como partida o componente auto-defensivo, defendendo o seu campo de competência e delimitando sua responsabilidade e área de atuação.

O processo de especialização médica e em particular da fisioterapia, não pode ser visto apenas como um produto de estratégia profissional nem como um reflexo direto do desenvolvimento científico e técnico. Desde a primeira metade do século XIX, nos países europeus mais evoluídos e nos EUA, começaram a ser adotadas com relativa rapidez e precisão algumas importantes descobertas no campo das ciências e técnicas biomédicas. Os fatores que influenciaram o processo de especialização foram primordialmente induzidos pela procura da especialidade.

Na última década do século passado, houve uma aceleração das mudanças na prática esportiva. Consolidou-se a idéia de esporte como direito de todos. Grupos até então pouco atendidos na questão da atividade física ganharam mais atenção. Como exemplos desta transformação, temos a terceira idade e os portadores de deficiência. As áreas ligadas aos esportes e à reabilitação dos atletas têm crescido significativamente, devido à profissionalização desses campos.

A fisioterapia esportiva no Brasil serve como referência para os demais países do mundo, apesar dos poucos recursos tecnológicos que dispomos no momento devido ao seu alto custo.

Nivaldo Baldo foi um dos precursores da Fisioterapia esportiva no Brasil foi o primeiro profissional a aplicar os princípios da fisioterapia nas práticas esportivas, desenvolvendo novas técnicas de hidroterapia na prevenção e recuperação de lesões. Deu inicio ao trabalho isocinético em fisioterapia, desenvolvendo aparelhos isocinéticos e de cinesio/mecanoterapia junto a empresas nacionais. Introduziu uma nova técnica de recuperação pós-operatória de joelho, e foi o primeiro profissional brasileiro a levantar a discussão sobre exercícios provocativos em lesões musculares e articulares.

A fisioterapia capacita o ser humano a se recuperar de seqüelas adquiridas por doenças e traumas, tanto após uma cirurgia quanto um traumatismo.

O objetivo principal da fisioterapia desportiva é devolver o atleta a sua prática esportiva o mais breve possível dentro dos limites fisiológicos após uma lesão. O conhecimento das propriedades fisiológicas de cada fase é extremamente importante para o fisioterapeuta realizar um melhor diagnóstico e assim poder direcionar o tratamento a ser executado em todo e qualquer tipo de lesão. Isto serve como base para a melhor compreensão dos processos patológicos e assim indicar e utilizar as melhores ferramentas para o tratamento.

Em qualquer lesão, ocorrem eventos fisiológicos específicos em resposta ao traumatismo. Cabe ao fisioterapeuta reduzir a gravidade desses efeitos fisiológicos, otimizar o tempo de cicatrização e devolver o atleta à competição o mais cedo possível sem comprometer seu bem-estar.

Os objetivos principais e/ou rotineiros, de um programa de fisioterapia incluem:

•  melhora do quadro sintomatológico;

•  aceleração cicatricial;

•  melhorar mobilidade articular;

•  ganho de ADM;

•  melhorar resistência muscular;

•  restabelecer a propriocepção;

•  retorno aos esportes.

O uso de várias modalidades pode ser essencial no controle e na redução dessas respostas, permitindo ao atleta iniciar precocemente os exercícios de amplitude de movimento e de fortalecimento.

O uso dos protocolos de reabilitação preestabelecidos como diretrizes para a progressão do atleta através do programo de reabilitação pode ser valioso. Os protocolos deverão fundamentar-se em princípios derivados da pesquisa sobre o tempo de cicatrização e cinemática articular. Entretanto, os protocolos de reabilitação são apenas diretrizes e os indivíduos toleram a dor diferentemente e cicatrizam com ritmos variáveis. O avanço da reabilitação no atleta deverá basear-se na avaliação diária do fisioterapeuta quanto aos relatos subjetivos e achados objetivos. A progressão de uma fase para outra somente deverá ocorrer depois que o atleta alcançou os objetivos esboçados na fase atual.

Um dos mais graves problemas do atleta e do esportista de uma maneira geral é o seu retorno tardio e o medo de reiniciar sua atividade esportiva. Com isso, a fisioterapia desempenha cada vez mais um papel importante para a autoconfiança do atleta em retornar ao esporte de forma rápida e segura, sem riscos de novas lesões; uma vez que o treinamento do gesto esportivo incorpora-se ao tratamento na fase final, onde o atleta juntamente com o fisioterapeuta e o treinador entram em acordo com relação às atividades propostas.

O tratamento fisioterápico tem evoluído muito nos últimos anos, a fisioterapia esportiva vem ganhando destaque com a 'explosão' de grandes atletas que contam a cada dia com mais tecnologia e avanços na área médica. As intervenções iniciais, as diversas fases de recuperação e um bom treino proprioceptivo são “a chave da vitória” no quadro esportivo. Um exemplo conhecido foi a lesão capaz de afastar “para sempre” o fenômeno sagrado do futebol, Ronaldo, que felizmente teve seu retorno brilhante graças à fisioterapia e sua disciplina de treinamento.

Antes de iniciar um programa de reabilitação, o fisioterapeuta, o técnico e o atleta deverão elaborar um conjunto de objetivos a curto, médio e em longo prazo baseados na lesão do atleta ou no procedimento cirúrgico realizado e na necessidade da competição.

Reforça-se desse modo, a importância da participação do profissional de fisioterapia em equipes multi-profissionais de treinamento esportivo, o diagnóstico precoce das alterações posturais e a adoção de medidas profiláticas efetivas podem prevenir a ocorrência de lesões desportivas, bem como, contribuir para o aumento da performance do atleta.

A Fisioterapia esportiva trabalha com um programa individualizado e dinâmico de exercícios prescritos para prevenir ou reverter às seqüelas, combinando exercício e as modalidades terapêuticas com a finalidade de restaurar os atletas ao seu nível normal de atividade. A reabilitação esportiva não inclui apenas a restauração completa do desempenho irrestrito, mas se esforça também para um nível de condicionamento maior do que o nível que o atleta possuía antes da lesão.

Nos últimos anos, na área das ciências do esporte na qual a Fisioterapia hoje ostenta inegável posição de destaque, foram responsáveis por uma intensa produção científica na qual o Treinamento e a Reabilitação Excêntrica aplicados à maioria das modalidades esportivas foram temas amplamente pesquisados e esmiuçados, atualmente sendo concebidos como peças fundamentais e imprescindíveis a qualquer programa otimizado de reabilitação e recondicionamento muscular cientificamente embasado.

Os recursos fisioterápicos usados são inúmeros: Crioterapia, Hidroterapia, Eletroterapia, Laserterapia, Termoterapia, Mecanoterapia, Cinesioterapia, Compressão Intermitente, Massoterapia, Treinamento Isocinético, Reavaliação e avaliação do plano de tratamento.

por Ft. Juliana Prestes Mancuso
Fisioterapeuta formada pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM)
Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica e Reabilitação do Sistema Músculo-esquelético pelo Instituto Cohen de Ortopedia, Fisioterapia e Medicina Esportiva,
em parceria com a Universidade São Marcos
Especialista em Reabilitação do Sistema Musculoesquelética pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia


Radiologia do Esporte - Designed by blue media studios©2007